Leitores escolhidos a dedo: Diletta Colombo

Conhecemos a Diletta na Feira do Livro de Bolonha, quando trabalhava para editora Topipittori. Há oito anos, mudou de rumo (mas não de ramo) e abriu a Spazio B**K, uma pequena livraria milanesa, onde tem a liberdade de escolher os livros e a programação de que mais gosta. Perguntámos-lhe o que é que aprendeu ao longo destes anos como livreira.

Sobre os livros:
“A oferta cria procura e cada livro pode ter o seu mercado e encontrar o seu leitor. Depois, cabe à intuição do livreiro, entre o imenso panorama editorial que existe, escolher os títulos que lhe interessam ou de que mais gosta: livros do presente e do passado, livros novos e usados, livros de todo o mundo e destinados a todas as idades.
Também são necessárias mãos de arquiteto para saber expor os livros, pô-los em relação uns com os outros e assim criar ligações, saltos livres de pensamento.”

Sobre os leitores:
“Nunca penso nos leitores em geral. Mais do que qualquer outra coisa, trabalho para criar um catálogo transversal e para criar o ambiente certo para que leitores muito diferentes encontrem alguma coisa interessante entre livros tão diversos. Qualquer leitor pode chegar a um livro, se encontrarmos formas de o levar ao livro (com entusiasmo e liberdade, sem receitas). Da mesma maneira, sempre que tenho um livro na mão, penso num leitor, num amigo, num cliente em particular a quem o possa sugerir, porque sei que é o livro certo para aquela pessoa.”

Sobre o negócio:
“É preciso ser muito pragmático para viver desta profissão, é preciso tanto de intuição como de análise, tanto de espontaneidade como de precisão. Tudo requer muita experiência: conseguir maiores descontos, diminuir custos de envio, reduzir consumos, pensar em projetos que possam ser mais rentáveis. Quando paramos para pensar e fazer contas, concluímos que não podemos estar parados. Sem a minha parceira Chiara, esta livraria entraria em colapso. São precisas várias almas para manter a funcionar um sistema cultural e económico.”

Sobre gigantes como a Amazon:
“Não podemos travar esse tipo de vendas, seria irrealista. Em vez disso, devemos lutar para mudar as regras do mercado e garantir que as leis e os controles de trabalho sejam os mesmos para todos e, em simultâneo, inventar estratégias para acompanhar as mudanças sociais em geral.
Mas, se todas as semanas formos ao mercado por baixo de nossas casas comprar queijo aos produtores locais de montanha e formos a uma livraria independente escolher um livro, teremos mais oportunidades de contactar com gostos e pessoas diferentes e tornamos possível que mais pessoas independentes vivam do seu trabalho. Escolher vários lugares para comprar é um investimento na diversidade.”

E as verdadeiras alegrias de uma livreira:
“A oportunidade de encontrar, descobrir, escolher, encomendar e depois ter nas mãos qualquer livro. A alegria de construir com outra pessoa (diferente, mas complementar) um projeto onde somos totalmente livres de fazer apenas o que gostamos, de escolher apenas o que gostamos. E, claro, a oportunidade de conhecer a humanidade através dos livros. Este é um prazer sem limites.”

Obrigada Diletta.
(Quando isto acalmar, vamos fazer-te uma visita. Prometido.)