7 perguntas a José Maria Vieira Mendes

Escreve sobretudo peças de teatro, mas também libretos para ópera, traduções literárias e, até agora, dois livros para a infância. Faz a estreia no catálogo do Planeta Tangerina com o livro “Para que serve?”, cujo texto nasceu de uma conferência para crianças que realizou, em Janeiro de 2019, a convite do Teatro LU.CA.


Conta-nos como correu a conferência que inspirou este livro. Gostávamos tanto de lá ter estado… 

Gostei muito de fazer a conferência a convite do Teatro LU.CA. Queriam que eu respondesse à pergunta “Para que serve a cultura?”, o que criou uma expectativa que foi divertida de desmontar porque, como devem calcular, não respondi à pergunta…


Quando é que começaste a desenvolver este hábito de fazer perguntas às perguntas? E onde é que ele te tem levado?

Havia perguntas que me apareciam recorrentemente e às quais eu não conseguia responder, por mais que aprendesse ou pensasse sobre elas. Até que resolvi tentar perceber de onde vinham essas perguntas, porque é que elas existiam, percebendo com isso que se, calhar, o problema de não haver resposta não estava em mim, mas sim na própria pergunta. E foi por isso que resolvi começar a fazer perguntas às perguntas, sobretudo às perguntas mais difíceis.


Não tens algum receio que, no final, alguns leitores perguntem “para que serve um livro como este?”?

Não, porque todos arranjamos maneira de responder a essa pergunta. O livro serve para muita coisa: para ler, para passar tempo, para prender uma porta, para esconder um bilhete ou para nos protegermos do sol. O que gostaria é que os leitores chegassem à conclusão de que, quando estamos com um bom livro, não interessa para que é que ele serve. E é isso que faz dele um livro – e o distingue de um saca-rolhas, por exemplo.


O que é que achaste da experiência de criar um álbum ilustrado, em colaboração com um ilustrador?

As ilustrações da Madalena dialogam com o texto e são parte de um livro que é a soma de ambos e que, portanto, é aquilo que o texto nunca imaginou ser.


Em relação à experiência de escrita, como distinguirias a escrita para um álbum deste tipo da escrita para uma peça de teatro?

As diferenças são muitas, mas há uma semelhança: a possibilidade de sermos surpreendidos pelo trabalho colaborativo, que nos faz chegar a sítios onde nunca imaginámos estar. Trabalhar com outros pode ser muito maravilhoso.


Para que serve uma pandemia como esta?

Serve para muita coisa, mas a sua utilidade não é a sua maior força. A sua maior força são coisas como o transtorno, a dor, o sofrimento, a irritação, a morte ou as chatices que causa, dependendo de cada uma das vidas que a vive. Mas vai passar.


Antes de terminarmos, há alguma pergunta que querias fazer?

Porque é que se faz perguntas a quem escreve um livro?