7 perguntas a Ana Pessoa

Ana Pessoa é autora de livros juvenis e álbuns ilustrados, todos eles editados pelo Planeta Tangerina. Os seus livros são recomendados pela International Youth Library (Alemanha), pelo Banco del Libro (Venezuela), pela Fundación Cuatrogatos e pelo IBBY (México). Em Portugal receberam distinções importantes, entre elas o Prémio Literário Maria Rosa Colaço e o Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/ Gulbenkian.

A propósito do lançamento de Desvio, falámos com a Ana sobre o processo de escrever para o formato novela gráfica, sobre as personagens deste novo livro, sobre a adolescência e outros devaneios…



1. É a tua primeira novela gráfica. Foste sempre em frente ou fizeste alguma inversão de marcha?

Não, não foi de todo um processo sempre em frente, até porque a novela gráfica me obriga a trabalhar vários níveis narrativos ao mesmo tempo, o que para mim foi complicado.

Por um lado, há as reflexões da personagem; por outro, os diálogos; e depois há a parte da narrativa (que é a mais pertinente para a novela gráfica), que é a narrativa visual. Tudo o que acontece com a personagem — onde ela está, como está, o que está a fazer… — tudo isso tinha de ser descrito ao máximo pormenor. Para mim isso foi o mais difícil.


2. Como é que o Miguel apareceu na tua vida (e neste livro)?

É difícil explicar de onde é que as personagens vêm, não é? Elas vão surgindo devagar, depois instalam-se e, a certa altura, era este rapaz que tinha 18 anos e se chamava Miguel. Veio assim do nada, como tudo o que faz parte deste processo criativo.


3. Achas que um adolescente é sempre alguém perdido, à procura do caminho?

Nós andamos todos perdidos. A certa altura, aceitamos que estamos perdidos e, portanto, parecemos menos perdidos do que os adolescentes. Mas andamos todos aqui, à procura de um sentido, de ligações, de uma certa vocação. E, nesse sentido, é uma procura constante, que não tem de ser sempre angustiante, pode ser até interessante. E, se correr bem, leva-nos a algumas respostas.


4. Há personagens de outros livros teus que também visitam este. Porque é que gostas destes cruzamentos?

Sim, acho que isto é natural: depois de conviver tão intensamente com personagens ao longo de tanto tempo, eu só quero é que elas tenham uma vida. E, por vezes, estou a escrever e volto a encontrá-las. Acho esses encontros divertidos, porque conheço muito bem essas personagens também. Pronto, sou eu a divertir-me.


5. No essencial, um adolescente de hoje é igual a um adolescente de há 20 anos?

Acho que nós não somos assim tão diferentes dos outros, não somos diferentes das pessoas de há vinte anos. Temos todos as mesmas ambições, as mesmas preocupações, as mesmas frustrações. Claro que, há 20 anos, as tecnologias eram diferentes, a maneira como convivíamos era diferente, mas, no essencial, somos bastante parecidos.


6. Qual foi o maior desvio que fizeste na tua vida?

Bem, eu escrevi um livro com este título, “Desvio”… Mas eu não sou grande apologista dos grandes desvios. Às vezes, acho que tomamos decisões que nos obrigam a certos desvios, nos momentos em que precisávamos precisamente de uma certa continuidade.

Mas o maior desvio que aconteceu na minha vida foi ter saído de Portugal, aos 22 anos. Foi um processo que vivi completamente sozinha e que foi, claro, por vezes muito difícil. Mas, no geral, foi um processo também muito positivo. Por vezes é bom vermo-nos de fora, sairmos, mesmo que seja para voltar. Voltamos sempre diferentes.


7. Passaste no código à primeira?

Passei o código à primeira e tive bastante sorte no exame! Saíram-me perguntas até bastante fáceis e, mesmo assim, falhei duas (se falhasse três, já não passaria). Mas lembro-me muito bem da sala onde fiz esse exame e da sensação de angústia antes de fazer o exame, do stress que foi acabar tudo a tempo… e depois daquela espera interminável pelos resultados.